Além
Dois cães saídos da novela de Cervantes, ou duas mulheres doentes? Dois seres falantes encontram uma pausa de estadia num hospital e teatralizam as suas vidas, as suas memórias, as suas saudades de um outro tempo, de um outro espaço, a várias vozes.
Devido à necessidade de recuperar uma qualquer liberdade perdida e equilibrar a saúde encenam uma conversa sobre o vazio e a ansiedade que se instalou nos seus corações. Vieram de onde? Talvez das províncias distantes da grande cidade para viverem um dia de trabalho, à procura da promessa de uma vida melhor. Para onde vão? Onde estão agora? Decerto que o voltar de novo para as máquinas que fazem as estradas e ligam o campo e as cidades, trespassando montanhas e vales, fazendo segura para a humana razão o viver em qualquer lugar, as tornaram diferentes. Serão loucas? Ou mulheres feitas dessa massa especial de que todos parecemos provir? E o texto que nos apresentam tem a desestruturação dos sonhos que afinal elas buscam recuperar...além...naquele quarto, naquele espaço de sonho finalmente possível. Esta estrutura, lógica e desconexa das suas vidas e conversas, remete-nos para mundos e tempos paradoxais. Além apresentam-se em simultâneo o esboroar das instituições, a procura da sustentação sobre a instabilidade, a máxima organização que conduz a um sentimento de caos, uma ordem que desaba em desordem, uma desorganização que se abre num delta de vias para o mar.